segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Imaginário do Heavy Metal na arte gráfica

É interessante quando se fala de Heavy Metal nos dias de hoje. Brotam milhões de nomes de bandas em nossas mentes, das mais variadas nacionalidades e estilos: Metallica, Judas Priest, Megadeth, Helloween, Black Sabbath, etc. Nenhuma destas bate o famigerado Iron Maiden, que desde a década de 80 se coloca entre uma das principais, se não a principal, do gênero. Diversas bandas que surgiram posteriormente a colocam como uma importante referência, não somente na música, mas também no visual e no imaginário, que ajudaram por definir e consolidar a imagem pública do Heavy Metal. Sobre o último, é sabido da grande maioria que o Heavy Metal possui uma imagem satanista, ligada a relações com Satanás e demais atos de ocultismo, gerando preconceito entre diversos setores da mídia, além do receio e fantasias por parte considerável do público consumidor de música.

É curioso pensar que os principais artistas do gênero passaram a usar essa imagem negativa como um dos principais meios de se garantir popularidade e autenticidade no meio musical que chega a se pensar como e quando começou essa relação. Para ser mais correto, é necessário ver que desde os primórdios do Rock N' Roll, a imagem de rebeldia vem acoplada aos principais artistas, cujas atitudes consideradas absurdas (cada época com uma hipocrisia a parte) muitas vezes superam à sua música propriamente dita. A cada geração/década que passa, mais rebeldia e insatisfação surge com os novos artistas, dando a alcunha permanente no rock de um gênero não apenas musical, mas também um estilo de vida/manisfestação.

Com o Heavy Metal, não seria diferente. Um dos principais ícones dessa imagem "pejorativa" é Ozzy Osbourne, ex-líder do Black Sabbath. Já na sua antiga banda, considerada umas das pioneiras do metal, existia o uso do visual sombrio e de letras que analisam temas como bruxaria, guerras, vida após a morte, etc. Essa foi, sem dúvida, a principal fonte de inspiração para as bandas do anos 80. Essas possuíam maior virtuosismo em seu som, o uso de guitarras em dueto (dobradas, num termo mais Metal), além de um visual mais formal e direto, em detrimento aos outros estilos. A cada albúm lançado, é possível verificar o maior nível técnico dos integrantes e uma melhor elaboração nas composições (nas letras igualmente). Mas é na arte gráfica dos albúns onde se encontram um dos principais diferenciais. Imagens distorcidas, figuras assombrosas, além de títulos "objetivos", fazem o merchandising do estilo se tornar bem divergente e autêntico em relação aos demais. Dentre várias capas clássicas estão a dos albúns The Number of the Beast, do Iron Maiden, Diary of a Madman, de Ozzy Osbourne, e Hell Awaits, do Slayer. Em cada uma delas são claros os símbolos que povoam o Heavy: Satanismo, bruxaria e decadência da alma humana (considerando as capas respectivamente). Com uma imagem dessas, pouco seria esperar retaliações de grupos que se sentiram ofendidos com esse conteúdo, que o digam os religiosos. Trabalhos do Maiden e Ozzy já foram vitimas de campanhas para a "purificação" dos jovens contra esses produtos "maléficos". Vale a pena lembrar que o país em questão é os Estados Unidos, e quem organizava tais campanhas eram, em grande maioria, líderes protestantes.

Hoje em dia, esse tipo de imagem ainda é muito veiculado, porém se há mais aceitação, digo, espaço para veiculação. Por parte da televisão e da imprensa escrita não tanto, mas principalmente da Internet. Com esse novo recurso, ficou muito mais fácil a interação de banda com fãs, além de se mostrar um outro lado dos grupos, com enfase também no trabalho musical, muitas vezes deixado de lado pela grande mídia. É fácil falar disso quando se é brasileiro e acompanha, de vez em quando, as pífias matérias que rolam a respeito do gênero. Hoje, grandes bandas como o Maiden, e até o AC/DC, possuem grandes coberturas, sem deixar de lado as falhas. As demais bandas, infelizmente, somente se servem de internet para sua promoção. Até o Maiden, por exemplo. Se olharem no youtube entrevistas da primeira visita da banda ao país, em 1985, verão que a sua imagem é em muito denegrida pela imprensa, mas, com o tempo, foi impossível negar a sua influência e força comercial (em termos de um gênero não louvado), o que se torna a necessária exposição.

A Rede Globo é mestre nisso.

THe Number of the Beast



















Diary of Madman



















Hell Awaits

domingo, 6 de dezembro de 2009

Martin Scorsese's Last Temptation of Christ

"Este filme não é baseado nos Evangelhos mas sim a partir dessa exploração ficcional do eterno conflito espiritual."

Usando essa frase como introdução, além da ótima atmosfera criada com a música feita por Peter Gabriel, o mínimo a se dizer é que este é um filme exótico. Lançado em 1988, A Última Tentação de Cristo, dirigido pelo renomado cineasta americano Martin Scorsese faz uma adaptação do clássico O Cristo Recrucificado, do escritor grego Nikos Kazantzákis.
A obra em nada se parece com qualquer adaptação para o cinema da vida de Jesus Cristo, buscando dar uma visão mais humanista à aquele que é considerado o filho de Deus, que foi enviado para salvar a humanidade dos maus caminhos e pecados. Aqui, ele é um ser humano que busca respostas para suas angústias interiores, que lhe atormentam e dividem o seu ser, impossibilitando-o de levar uma vida comum. Jesus termina por seguir suas intuições, transformando-se assim naquele que traria as boas novas e a sonhada "liberdade" para o povo de Israel, então subjugado pelo Império Romano. Pelo aspecto mais humano que lhe é colocado na narrativa, suas dúvidas são fortes e aterrorizantes, alimentadas pelas constantes tentações promovidas pelo Diabo, crente em tirá-lo de seu caminho. As tentações estão presentes em todo o filme, com um final surpreendente e emblemático, problemático também (ou até mais).

Pessoalmente, acho que o filme representa não apenas as curiosidades e dúvidas tanto do autor do livro como do diretor do filme, mas também de qualquer ser humano que coloca o cristinanismo como sua religião, ou qualquer outro que considera a sua influência na humanidade, desde sua propagação. O mistério que envolve toda a sua história, a forma como suas "ideologias" foram pregadas ao longo dos séculos, inicialmente pela Igreja Católica Romana, depois pelas diversas igrejas que surgiram com a Reforma Protestante, que sempre elegeram o lado espiritual como o único a ser seguido, em detrimento das experiências empíricas e sensíveis que surgem ao nosso redor, como forma de se compreender o mundo e o próximo. Historicamente, acredito que possa se fazer uma leitura desta obra, bem como o pensamento ideológico que corre por trás dela, ao relacionar as constantes inovações tecnológicas que surgem, quebrando barreiras e mitos a muito difundidos, mostrando a força da natureza e a relevância da interferência do homem nela. Principalmente se constatarmos que a pesquisa do autor sobre o tema surge no início do século XX (o livro só seria lançado em 1964), época em que a industrialização atinge níveis extremos (para os padrões da época), o que gera uma maior inovação científica, além de diversas descobertas científicas e inovações no estudo do ser humano, colocando em cheque diversas formas de pensamento propagados pela religião. O filme ( e o livro) é uma análise, uma narrativa acerca deste debate entre o humano, o sensível, e o espiritual, o imaterial, e como essas relações afetam a vida dos seres humanos, inculcados ou não, com esta ideologia.

O Filme recebeu duríssimas críticas não só da comunidade Católica, mas de toda a comunidade Cristã, por dar crédito a uma versão que não se encontra nos evangelhos, e humaniza diversos personagens bíblicos, além de Jesus. Faz sentido se assustar ao ver Jesus como um carpinteiro que era o único de sua região que aceitava em fazer cruzes para os romanos. Um filme muito bom, que recomendo a todos a assisitirem. Elogios pessoais principalmente para os atores principais Willem Dafoe (como Jesus), e Harvey Keitel (como Judas). Bom filme!!!

Ps: Deixo uma cena, a qual Jesus salva Maria Madalena (Barbara Hershey), de ser apedrejada. Infelizmente sem legendas.