domingo, 6 de dezembro de 2009

Martin Scorsese's Last Temptation of Christ

"Este filme não é baseado nos Evangelhos mas sim a partir dessa exploração ficcional do eterno conflito espiritual."

Usando essa frase como introdução, além da ótima atmosfera criada com a música feita por Peter Gabriel, o mínimo a se dizer é que este é um filme exótico. Lançado em 1988, A Última Tentação de Cristo, dirigido pelo renomado cineasta americano Martin Scorsese faz uma adaptação do clássico O Cristo Recrucificado, do escritor grego Nikos Kazantzákis.
A obra em nada se parece com qualquer adaptação para o cinema da vida de Jesus Cristo, buscando dar uma visão mais humanista à aquele que é considerado o filho de Deus, que foi enviado para salvar a humanidade dos maus caminhos e pecados. Aqui, ele é um ser humano que busca respostas para suas angústias interiores, que lhe atormentam e dividem o seu ser, impossibilitando-o de levar uma vida comum. Jesus termina por seguir suas intuições, transformando-se assim naquele que traria as boas novas e a sonhada "liberdade" para o povo de Israel, então subjugado pelo Império Romano. Pelo aspecto mais humano que lhe é colocado na narrativa, suas dúvidas são fortes e aterrorizantes, alimentadas pelas constantes tentações promovidas pelo Diabo, crente em tirá-lo de seu caminho. As tentações estão presentes em todo o filme, com um final surpreendente e emblemático, problemático também (ou até mais).

Pessoalmente, acho que o filme representa não apenas as curiosidades e dúvidas tanto do autor do livro como do diretor do filme, mas também de qualquer ser humano que coloca o cristinanismo como sua religião, ou qualquer outro que considera a sua influência na humanidade, desde sua propagação. O mistério que envolve toda a sua história, a forma como suas "ideologias" foram pregadas ao longo dos séculos, inicialmente pela Igreja Católica Romana, depois pelas diversas igrejas que surgiram com a Reforma Protestante, que sempre elegeram o lado espiritual como o único a ser seguido, em detrimento das experiências empíricas e sensíveis que surgem ao nosso redor, como forma de se compreender o mundo e o próximo. Historicamente, acredito que possa se fazer uma leitura desta obra, bem como o pensamento ideológico que corre por trás dela, ao relacionar as constantes inovações tecnológicas que surgem, quebrando barreiras e mitos a muito difundidos, mostrando a força da natureza e a relevância da interferência do homem nela. Principalmente se constatarmos que a pesquisa do autor sobre o tema surge no início do século XX (o livro só seria lançado em 1964), época em que a industrialização atinge níveis extremos (para os padrões da época), o que gera uma maior inovação científica, além de diversas descobertas científicas e inovações no estudo do ser humano, colocando em cheque diversas formas de pensamento propagados pela religião. O filme ( e o livro) é uma análise, uma narrativa acerca deste debate entre o humano, o sensível, e o espiritual, o imaterial, e como essas relações afetam a vida dos seres humanos, inculcados ou não, com esta ideologia.

O Filme recebeu duríssimas críticas não só da comunidade Católica, mas de toda a comunidade Cristã, por dar crédito a uma versão que não se encontra nos evangelhos, e humaniza diversos personagens bíblicos, além de Jesus. Faz sentido se assustar ao ver Jesus como um carpinteiro que era o único de sua região que aceitava em fazer cruzes para os romanos. Um filme muito bom, que recomendo a todos a assisitirem. Elogios pessoais principalmente para os atores principais Willem Dafoe (como Jesus), e Harvey Keitel (como Judas). Bom filme!!!

Ps: Deixo uma cena, a qual Jesus salva Maria Madalena (Barbara Hershey), de ser apedrejada. Infelizmente sem legendas.


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