domingo, 1 de maio de 2011

Believing in anything: Analisando o filme Lennon Naked

A primeira vez que vi esse filme para download, achei que não seria digno de sequer uma olhada. Mas, agora que estou escrevendo este texto, confesso que foi bom ter me aventurado e olhado um pouco mais sobre essa adaptação de uma época bem conturbada e efervescente, tanto em termos culturais quanto políticos. Nada seria mais desafiador do que observar a tudo isso pelo ponto de vista de um dos maiores ícones da época, e dos dias atuais também, mesmo mais de 30 anos após sua morte: John Lennon.

Lançado em 2010, e produzido pela BBC, Lennon Naked propõe um olhar sobre a vida de John Lennon (Cristopher Eccleston) de 1964 a 1971. O filme foca principalmente a partir de 1967, com a morte do empresário de longa data dos Beatles, Brian Epstein (Rory Kinnear), a deterioração do relacionamento entre os membros da banda, a ruptura de John com Cinthia (Claudie Blakley), sua primeira mulher, uma nova vida com Yoko Ono (Naoko Mori), e a tumultuada relação com seu pai (Cristopher Fairbanks), cujo reencontro após 17 anos de ausência se transforma em um processo intenso e doloroso, para ambos.

O filme começa em 1964, durante as filmagens daquele que seria A Hard Day’s Night, o primeiro longa metragem dos Beatles, inspirado no álbum homônimo. Após várias súplicas, Brian atende ao pedido do pai de John e arranja um encontro entre os dois, que se dá de forma brusca e conflituosa. Pude perceber que a atuação de Eccleston procura evidenciar não só o desconforto de um reencontro de dois familiares após uma longa data, mas também a situação-limite em que John Lennon se encontrava. Havia, de fato, uma pressão interna muito forte para este reencontro, e isso fica claro nas cenas posteriores onde ambos se encontram. Notoriamente reconhecido por sua frieza, arrogância e sarcasmo evidente, essa cena inicial evidencia até que ponto a fama catalisa as angústias de John: este se apresenta sociável e carismático ao grupo de fãs histéricas que o perseguem, ou ao motorista que lhe pede um autógrafo para sua esposa. Porém, frente ao seu pai, seu comportamento mescla o desprezo e o ódio, destacando a sua dificuldade de comunicação e expressão, que definirá todas as decisões que tomou a frente, além do tom melancólico do filme.

Após essa cena inicial, há um salto de três anos, e diversas mudanças também ocorrem na composição estética do filme: A película, até então preto e branco, torna-se colorida, e há a presença de cenários mais bem iluminados, o que dá uma impressão ambígua de serenidade, que é tudo que não se vê no filme. Em 1967, a banda lança o álbum Magical Mystery Tour, o primeiro depois da morte de Brian Epstein. A relação entre os membros ainda é estável e produtiva, mas todos demonstram a preocupação de continuar sem a orientação e direção daquele que fora seu empresário bem antes do sucesso.

A partir deste ponto, procurarei fazer esta análise de forma a separar tópicos, elucidando situações diversas que dão corpo à narrativa do filme. Evidencio diversas ao invés de ‘distintas’, por que essas, de fato, não estão desconexas. Entretanto, para a elaboração de qualquer relato sobre algum fato, é necessário ‘descontruir’ o mesmo, dando corpo assim à mensagem que se quer passar na obra. Só vivendo mesmo para apreender mais do geral – se tal afirmação pode ser possível. Todos sabemos disso. Mas, para elucidar o que vou demonstrar, acho mais comfortável evidenciar esta questão.

Mas, vamos lá.

Nota: Não fiz nenhuma pesquisa profunda sobre fatos e versões sobre a vida de John Lennon, e confesso que não assisti (ainda) a outros filmes que buscam na vida deste artista o seu enredo. Falo de filmes como Nowhere Boy. Se alguém que não assistiu Lennon Naked ainda se sentir interessado em fazê-lo após

ler isso, já está ótimo para mim.

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